A microbiota intestinal tem um papel fundamental na manutenção da função imune e na saúde digestiva. Abrigamos centenas de tipos diferentes de bactérias e outros microrganismos no nosso intestino, sendo a maioria no cólon. Relativamente poucas bactérias vivem no estômago e intestino delgado devido aos efeitos da acidez gástrica e peristalse. Crescimento excessivo destas bactérias no intestino delgado é conhecido como supercrescimento bacteriano no intestino delgado (SCBID).

O supercrescimento bacteriano do intestino delgado (SCBID) ocorre quando há um desequilíbrio da flora microbiana, ou seja, presença de uma grande quantidade de bactérias no intestino delgado.

Durante muitos anos, reconhecemos esta entidade como uma causa de má absorção em pacientes com síndrome do intestino curto ou outras alterações anatômica, cirúrgica ou secundária à doença inflamatória intestinal, especialmente doença de Crohn, e mais recentemente a reconhecemos em portadores da síndrome do intestino irritável (SII). A incidência de SCBID varia de 10% a 84% dos pacientes com síndrome do intestino delgado, dependendo da população avaliada.

O SCBID pode estar associado com uso crônico de inibidor de bomba de prótons, doenças neuromusculares, diabetes mellitus, síndrome do intestino irritável, doença inflamatória intestinal (retocolite ulcerativa; doença de Crohn), intolerância à lactose, pós-operatório de cirurgias gastrointestinais e uso prolongado de antibióticos.

Quais são os sintomas:

Os sintomas do SCBID estão relacionados com má absorção e produção de gases em excesso. Os pacientes que apresentam SCBID podem evoluir dor e inchaço abdominal, flatulência, borborigmo (ruídos peristálticos excessivos pelo deslocamento de gases no abdome), diarreia, constipação, emagrecimento e anemia.

Parte importante destes pacientes apresenta diarreia, algumas vezes com esteatorréia, inchaço abdominal, flatulência e perda de peso. Algumas vezes, deficiências nutricionais podem ocorrer, tais como vitamina B12 e vitaminas solúveis em gordura, tais como vitamina D. Raramente o paciente é assintomático ou não necessariamente irá apresentar todos estes sintomas. O suspeita clínica será sempre baseada nos sinais e sintomas apresentados pelo paciente.

SCBID deve ser sempre suspeitado em pacientes com qualquer anormalidade anatômica do intestino delgado. Incluindo aqueles com doença de Crohn, ou que tiveram uma cirurgia anterior, incluindo ressecção ileocecal. Além disso, os pacientes com doenças que predispõem a diminuição do peristaltismo como, tais como diabetes ou esclerodermia, estão predispostos ao SCBID.

Finalmente, os pacientes com outras doenças crônicas como pancreatite crônica e cirrose têm uma maior incidência de SCBID, mostrando que a causa desta síndrome é multifatorial.

Sobre a relação da SII com SCBID, sabemos que há um subgrupo de pacientes com SII que merecem a pesquisa do SCBID e se beneficiam com esta abordagem, com remissão prolongada dos sintomas após tratamento instituído. Pacientes com inchaço abdominal, flatulência e diarreia são os que mais se beneficiam.

O padrão ouro para diagnóstico do SCBID é  a cultura do aspirado do intestino, porém é um método invasivo, caro e disponível apenas em centros de pesquisa.

A cultura de jejuno foi largamente substituída por testes respiratórios com hidrogénio expirado. Nenhuma investigação não invasiva tem boa sensibilidade e especificidade. A medida do metano expirado juntamente com o hidrogênio, melhora o ganho diagnóstico em torno de 15%, pois há um grupo de pessoas que apresenta microbiota metanogênica exclusiva (não excreta hidrogênio na respiração).

O resultado do teste respiratório é baseado na curva de hidrogênio expirado após a ingestão de um substrato, habitualmente glicose ou lactulose. É um método barato, amplamente disponível e não invasivo, sendo estas as suas principais vantagens.

A glicose é prontamente absorvida no intestino delgado e, portanto, em circunstâncias normais, não deve resultar em aumento em hidrogênio respiração. O teste respiratório de hidrogênio e metano é uma maneira barata e não invasiva para o diagnóstico de SBCID.

Como é feito o tratamento:

O tratamento do supercrescimento bacteriano do intestino delgado é feito com uso de:

  • Antibióticos
  • Probióticos e simbióticos com o objetivo de equilibrar a flora bacteriana e controlar os sintomas.

Se os sintomas recidivam, curso regulares de antibióticos para reduzir a microbiota intestinal e manter os sintomas controlados se torna necessário. O uso rifaximina, um antibiótico não absorvível, já foi muito estudado e apresenta bons resultados, porém ainda não está disponível no Brasil. É muito importante também tratar as doenças que estão associadas. Recidivas são frequentes e novos tratamentos são invariavelmente necessários.

Raramente, alguns pacientes terão que ser submetidos a alguma cirurgia para corrigir a causa subjacente, tais como divertículos jejunais (diverticulose jejunal) ou estenoses cirúrgicas ou inflamatórias.

Fonte – Federação Brasileira de Gastroenterologia